sexta-feira, 22 de junho de 2012

PAid'égua! BRasil em defesa do E.C.A.!


A dimensão militante da obra de Lúcia Gomes, evidente tanto em seu temário como em seu processo expositivo, fundamentalmente performático de exposição, faz pensar na relação – e na distância – entre o homem e seu estar-no-mundo. Ou melhor: entre o permanecer parado e o intervir. Essa relação/distância, alegorizada por Lúcia, é um sintoma contundente da arte contemporânea, na sua disposição em suplantar a materialidade convencional e convencionada da obra pelo dispositivo temporal do momento. A arte não está mais na representação, nem no conceito, mas sim na ideia: o que sobra, o que pode sobrar, depois do acting, do étant, de uma obra de arte de Lúcia Gomes? Não sobra a matéria, não sobra o conceito. Sobra apenas o registro, sempre eventual e relativo ao indivíduo que o executa e a subjetividade legada: a ideia, a sensação, a memória, o estar –no-mundo, o pertencer –ao-mundo.

Lúcia alegoriza a obra de arte. Para ela, a obra de arte é o ato, fugaz, temporal, imaterial que se transforma em matéria no tempo do instante. Esse ato tem o poder de refletir a personalidade social e política da artista, seu engajamento num mundo que, por vezes, pode ser perverso e hostil. Em alguns artistas esse reflexo é mais perceptível do que em outros; talvez porque haja, nesses artistas, o desejo de se fazer perceber enquanto sujeito do ato de criação. Então, de maneira peremptória, sua produção artística acaba contendo esse dispositivo de autorreflexão, que marca, que chama atenção, para a sua forma de estar-no-mundo. Lúcia Gomes pertence a essa família de artistas e sua arte possui esse dispositivo reflexivo do seu estar-no-mundo, em que fazer arte é uma experiência vital, plena de sentir-o-mundo.

Sua arte procura o outro, esquadrinhando aquele com quem a artista passa a dividir seu sentir-o-mundo, dividir o seu pesar, o seu sofrer, mas também a sua alegria, o seu amor, o seu estar-no-mundo e sua arte. Aqui a arte toma uma forma que se completa somente quando esta forma toca o outro, e nesse tocar sua arte ganha sentido, vivo no e para o outro. E nessa relação artista-obra-outro, na partilha, sua arte se mostra ao mundo na composição artística inteira de vigor.

Suas obras, seja pelo idílico, seja pelo lúdico, seja pelo crítico, captura nossa visão e nossos sentidos, fazendo-nos entrar, através de suas formas e de suas performances, em um universo social crítico e politizado, mas também lúdico. Isso tudo é sentido com mais intensidade porque Lúcia faz o espectador sair de seu estado de passividade, inserindo-o na ação, fazendo-o também autor, performático, do movimento artístico, do ato; isso ocorre em STOP quando o espectador saboreia o pirulito com cabo de frio e cortante do prego. No PIPAZ e no prazer infantil do empinar papagaios. No RESISTÊNCIA que remete ao universo infantil de seus balões.

Sua arte nasce para o outro, caminha em direção ao outro e completa-se no outro. Lewis Hyde coloca, em A Dádiva, que a arte é uma dádiva, pois cria um vínculo emocional com o espectador. A arte de Lúcia nasce nesse intuito, de partilhar, de criar algo no outro; portanto Lúcia doa, dá ao outro algo que lhe pertence, e aí estabelece o vínculo, no ato da construção da obra. Em suas instalações performáticas quem dá vida a obra não é somente a autora, pois a autora leva seus espectadores a participarem da obra e darem vida à obra; nesse momento ela doa a si e a obra, ela doa o seu ser-o-mundo.

Nessa exposição, acompanhada de atos performáticos que ocorrem simultaneamente em Belém, encontraremos dois momentos. No primeiro momento, podemos enquadrar as obras produzidas no universo regional amazônico, na sua terra natal, com elementos e referências culturais amazônicas, obras que serão reproduzidas nesse espaço como o “Nem que L. tenha 100 anos”, “STOP”, “Resistência”. Observamos nesses atos performáticos a relação binária entre a dor e o amor, entre o social e o político, entre a denunciar da injustiça e a cumplicidade com a dor, que não é só a dor do outro, mas da artista também. Esse primeiro momento se caracteriza por uma estética própria ao universo regional amazônico, permeada por elementos daqui, como o pirulito de melado, o suporte que o vende, a cobra grande, a chita, as formas de empinar o papagaio, a periferia usada para seus atos artísticos e políticos - outra característica binária presente.

O segundo momento presente nessa exposição refere-se ao seu estar-no-mundo autrement, diferenciado, pertencente a um universo cultural distante daquele que a gestou enquanto ser-no-mundo. A artista deixa-se absorver por esta nova forma de estar-no-mundo e transforma a estética de sua arte. Lúcia ganha uma nova forma de estabelecer contato com o mundo; e sua produção artística ganha novo contorno através do traço; e com novo traço cria novas formas de estabelecer contato com o outro, mais perene do que ação. Notamos aí também uma dicotomia, entre o fugaz presente em suas ações, e a permanência presente nas imagens.  Observamos aí a influência de uma nova paisagem presente em seus desenhos; a cor se modifica, torna-se mais forte, intensa, sem gradações. Há a presença das cores primárias com maior intensidade, seja através do amarelo do tucupi, seja através do vermelho da China – evocação daquilo que a artista já viveu, seja o azul do céu. Mas existe principalmente, esse universo infantil colorido que nasce na e da brancura da neve, elemento estético novo, diferenciado de suas elementares referência cultural. Sim, a temática é amazônica, é paraense, é daqui, mas sutilmente mudam seus elementos estéticos. Aparecem as montanhas, o castelo, a neve, o verde que não é o amazônico, o rosa que evoca a feminilidade. Esses novos traços que evocam um expressionismo alemão, um Kirchner em Ano Novo na Marujada de Boa Vista Kopie; e também evocam um Miró, em A gata da Aninha pegando Sol. Essa Lúcia que brinca com traços! 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Esta é Urmila Devi (photo Hervé Perdriolle 1998)
Urmala Devi nasceu nos anos 60, no estado de Bihar, ao norte da ìndia, à 30 km da fronteira com o Népal. Ela faz parte dos "intocáveis", aqueles que não pertencem a nenhuma casta do sistema hindu. Sua vida é dividida entre os afazeres domésticos e familiar e a produção de suas obras. 
No primeiro contato, nada a distingue das outras mulheres de sua região e de sua comunidade, a dos Dusadh (nominally "watchmen", David Szanton). Mas, com atenção, podemos descobrir, pintura após pintura, que sua arte é diferente das outras mulheres. Seu estilo pessoal permite que a identifiquemos entre tantas outras produções artísticas massivas de desenhos e pinturas que são oferecidas no mercado turístico de sua região.

Urmila Devi photo Hervé Perdriolle 1998

 Tinta e esterco de vaca sobre o papel, 1998, 75,5x56cm

Tinta e esterco de vaca sobre o papel, 1998, 75,5x56cm

Tinta e esterco de vaca sobre o papel, 1998, 75,5x56cm

Essas imagens foram exposta na exposição "Expéditions Indiennes" 
no museu de Arts Décoratifs, Paris, 1998.
Vista da exposição ao museu.
Mais informações e imagens e textos retirados daqui.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Arte dos Aborígines da ìndia

De presentinho, que divido com vocês, ganhei a notícia do aparecimento do livro "Arte Contemporânea Indiana. Uma palavra, diversas culturas" em 10 de maio último. O Livro agrupa diversos artista autóctones, alguns com um longo percurso nas artes e também no mercado. O livro é organizado e dirigido por Hervé Perdriolle que juntou, de 1996 a 1999, diversos desenhos e pinturas da arte contemporânea vernácula da ìndia. Alguns artista presentes na coleçãocomo Jivya Soma Mashe e Jangarh Singh Shyam, estavam presentes na exposição "Mágicos da Terra" que ocorreu no Centro George Pompidou, em 1989. Divido as poucas imagens que consegui. Segundo Le Monde, de 17 de fevereiro de 2011 - e lá se vão mais de um ano... e me sinto en retard... Na Índia, a o lugar que ocupam os povos autóctones, não é mais em um 
museu de caráter antropológico ou arqueológico, mas sim ao lado da cena artística contemporânea, juntamente com as obras que se vendem em galerias de arte e em museus do mundo inteiro. A voz das populações tribais indianas renasce graças à pintura.


Chano Devi exposition à l"alliance Française de Bangalore, 1999.

Jivya Soma Mashe vista da exposição e fotografia com Indira Gandhi no National Award em 1976. 

Jivya Soma Mashe "Double Fishnet", 2009. Coleção Agnès B.

Jivya Soma Mashe

jivya soma mashe indian contemporary art
Desenho e retrato de Jivya Soma Mashe, 1997.

Jivya Soma Mashe, 2010.

Jivya Soma Mashe, 1997.

balu sadashiv and jivya soma mashe photo herve perdriolle
Balu, Sadashiv e Jivya Soma Mashe, 2010, Índia, 1999.

Mais imagens aqui e mais informações aqui. Beijos e divirtam-se.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

5ª Edição do Monumenta - Paris 2012

     O ano de 2012 marca a 5ª edição da exposição Monumenta no Grand Palais em Paris. O artista que encarna essa edição é Daniel Brun, que cria uma obra de 13.000 m2 sob o esplendoroso teto em vidro da nave do Grande Palácio colocando em evidência sua arquitetura deste prédio.
    É uma instalação alta, em cores, compostas de grandes redondos azuis, amarelos e laranjas, provocando um jogo de luz natural que veste o espaço de forma inusitada. Texto baseado aqui e mais info também aqui.
Daniel Brun
Daniel Buren

Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

C'est Paris mon amour!
Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

Sem frescura, sem pieguices.... 
Qualquer um pode fotografar! Isso é não ter medo de partilhar!
Isto é a verdadeira arte.
Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"

Marco Prince

Le vernissage de l'exposition "Monumenta 2012/Daniel Buren"
Photos par Saskia Lawaks

sexta-feira, 23 de março de 2012

Descobrindo o Azerbaijão!

Tava assistindo um programinha no Discovery, e derrepende... descobri Baku, capital do Arzebaijão! Fiquei impressionada! Minhas referências desses países asiáticos, ocidentalizada, são quase inexistentes, e descobrir uma cidade com uma proposição cultural tão clara e futurista para seus habitantes; encontramos uma vivacidade inesperada depois de anos submissão ao antigo sistema comunista da falecida URSS; me surpreendi! Minha surpresa está na capacidade de uma sociedade de se superar, de ir para além de seus limites - prioristicamente a partir de minha parca visão ocidentalizada - 
do universo cultural islâmico.

Olhem esse centro cultural ainda em construção!




Todo feito em curvas, por dentro e por fora... 
O incrível é que nesse espaço até um teatro existirá!


Ele ficará assim...




E por dentro assim...





Pois é, não é impressionante? Peguei essas imagens daqui. 
E tem um vídeo incrível que não consegui colocar aqui, mas segue aqui.